No encerramento da Reunião da Cúpula do Clima de Belém, realizada no Parque da Cidade, nesta sexta-feira (7), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfatizou a urgência da transição energética como eixo central no enfrentamento às mudanças climáticas.
O evento, que se estendeu por dois dias, reuniu dezenas de chefes de Estado e de governo, presidentes de organismos internacionais e milhares de jornalistas de todos os continentes. Nenhum incidente foi registrado durante o encontro. As forças de segurança atuaram de forma exemplar, garantindo a tranquilidade e a organização típicas dos grandes eventos globais.
A população de Belém deu um show de hospitalidade, acolhendo com entusiasmo os visitantes. A jornalista Layse Santos conduziu o cerimonial, representando com elegância e competência o jornalismo da Amazônia. O governador Helder Barbalho, ao lado do presidente Lula, foi o anfitrião do encontro, que contou ainda com a presença de diversos ministros, além do presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre, e do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta.
Pela manhã, foi registrada a tradicional “foto de família”, em um cenário deslumbrante que chamou a atenção da imprensa internacional.
“A Terra não comporta mais o uso intensivo de combustíveis fósseis”
Em seu discurso de encerramento, o presidente Lula alertou para o esgotamento do modelo energético baseado em combustíveis fósseis. Segundo ele, “a Terra não comporta mais o modelo de desenvolvimento baseado no uso intensivo de combustíveis fósseis, que vigorou nos últimos 200 anos. 75% das emissões de gases do efeito estufa têm origem na produção e no consumo de energia”. E enfatizou: “Não podemos nos omitir diante da magnitude desse dado”.
Lula apresentou uma proposta de transição energética baseada em três eixos:
- Implementação do acordo firmado em Dubai, que prevê triplicar a geração de energia renovável e dobrar a eficiência energética até 2030;
- Eliminação da pobreza energética, garantindo acesso universal à energia limpa e acessível;
- Adesão ao Compromisso de Belém, para quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035 e acelerar a descarbonização dos setores mais desafiadores.
Brasil como referência global
O presidente destacou o protagonismo nacional histórico na produção de energia limpa. “O Brasil não tem medo de discutir a transição energética. Somos líderes nessa área há décadas. Ainda nos anos 1970 fomos o primeiro país a investir em larga escala em alternativas renováveis. Hoje, 90% da nossa matriz elétrica provém de fontes limpas”, afirmou.
Ele também ressaltou os avanços na área de biocombustíveis: “Somos pioneiros no desenvolvimento de motores flex e o segundo maior produtor mundial de biocombustíveis. Nossa gasolina contém 30% de etanol e o diesel, 15% maisena biodiesel. O etanol é uma alternativa eficaz e imediatamente disponível para os setores mais desafiadores, como indústria e transportes”.
Avanços e desafios
O chefe do Executivo nacional lembrou que o uso de fontes renováveis triplicou nos últimos dez anos e que, no primeiro semestre de 2025, a energia renovável tornou-se a maior fonte individual de geração elétrica no mundo, ultrapassando o carvão. “Em várias regiões, a energia solar e eólica já são mais baratas que as fontes fósseis, e o preço das baterias caiu 90%”, observou.
Contudo, alertou que os avanços ainda são lentos: “Os incentivos financeiros muitas vezes caminham na direção contrária à sustentabilidade. Em 2024, os 65 maiores bancos do mundo destinaram 869 bilhões de dólares ao setor de petróleo e gás. Desde o Acordo de Paris, a participação dos combustíveis fósseis na matriz global caiu de 83% para apenas 80%”.
Combate à pobreza energética
O presidente brasileiro também destacou a urgência de combater a pobreza energética, que afeta 2 bilhões de pessoas no mundo. “São milhões de famílias sem energia adequada para cozinhar, e 200 milhões de crianças estudando em escolas sem acesso à luz elétrica. Sem energia, não há hospitais, agricultura moderna ou conexão digital”, disse.
Transição como oportunidade
Lula classificou a transição energética como um novo paradigma de desenvolvimento. Em 2023, o setor respondeu por 10% do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global e empregou 35 milhões de pessoas. Ele defendeu a inclusão dos países em desenvolvimento em toda a cadeia de valor dos minerais críticos, essenciais para baterias, painéis solares e sistemas de energia.
Financiamento e justiça climática
O presidente defendeu a ampliação do financiamento climático e o acesso equitativo às tecnologias limpas: “Um processo justo e ordenado de afastamento dos combustíveis fósseis requer financiamento e transferência tecnológica. Há espaço para mecanismos inovadores, como a troca de dívida por investimentos em mitigação e transição energética”.
Ele anunciou que o Brasil criará um fundo nacional para destinar parte dos lucros da exploração de petróleo ao financiamento da transição energética e à promoção da justiça climática.
Mensagem final
Em tom de reflexão, o presidente Lula encerrou sua fala com um apelo aos líderes globais: “É tempo de diversificar nossas matrizes energéticas, ampliar as fontes renováveis e acelerar o uso de combustíveis sustentáveis. Nesta COP, os líderes devem decidir se o século XXI será lembrado como o século da catástrofe climática ou como o momento da reconstrução inteligente”.
Por Carlos Magno – Jornalista (DRT/PA 2627)