A megaoperação realizada na última terça-feira (28), no Rio de Janeiro, superou o massacre do Carandiru e se tornou a ação policial mais letal da história das forças de segurança no Brasil. A ação nos complexos da Penha e do Alemão, na capital fluminense, resultou em pelo menos 121 mortes. Ocorrido em 1992, em São Paulo, o massacre do Carandiru deixou 111 mortos durante uma intervenção da Tropa de Choque da Polícia Militar dentro do presídio.
A letalidade da chamada 'Operação Contenção' que, segundo o Governo do Estado, tinha como objetivo conter o avanço da facção criminosa Comando Vermelho (CV) na região, gerou reações de órgãos públicos, lideranças políticas e até de outros países.
Nesta quarta-feira (29), o Ministério Público Federal (MPF) determinou que o Instituto Médico-Legal (IML) entregue, em até 48 horas, todos os dados periciais dos mortos na megaoperação. Já o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) informou a abertura de um inquérito para investigar a ação. Segundo o órgão, serão solicitadas imagens das câmeras corporais dos agentes para analisar a atuação das forças de segurança e elaborar laudos independentes.
Em Brasília, houve repercussão entre integrantes dos Três Poderes. De volta ao Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se manifestou pela primeira vez sobre a operação. Em nota publicada nas redes sociais, Lula defendeu "um trabalho coordenado" contra o crime organizado, "sem colocar policiais, crianças e famílias inocentes em risco". O petista também pediu que o Congresso aprove a PEC da Segurança, proposta que busca garantir atuação conjunta entre as polícias federal, civil e militar.

No Supremo Tribunal Federal, o ministro Alexandre de Moraes pediu esclarecimentos ao governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL) sobre a ação. A decisão foi tomada no âmbito da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, conhecida como ADPF das Favelas.
Na Câmara nos Deputados, o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Casa (CDHMIR), deputado Reimont (PT-RJ), pediu ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, a abertura de imediata de uma investigação criminal contra Castro, além da adoção de medidas cautelares e a avaliação sobre eventual prisão preventiva do governador.
Já no Senado, o presidente Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), anunciou a criação da CPI do Crime Organizado. Segundo o parlamentar, a Comissão Parlamentar de Inquérito irá "irá apurar a estruturação, a expansão e o funcionamento do crime organizado, com foco na atuação de milícias e facções".
A ação também gerou reações de países vizinhos. Na Colômbia, o presidente Gustavo Petro divulgou, em uma rede social, imagens dos corpos resgatados no Complexo da Penha, afirmando que "as lutas contra as gangues não são nada além de barbárie". Enquanto isso, na Argentina, foi declarado alerta máximo nas fronteiras do país com o Brasil. O governo Milei também passou a classificar o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) como organizações narcoterroristas.